quarta-feira, janeiro 18, 2006

Um outro olhar sobre a terceirização do HM

Gostaria de manifestar minha opinião sobre a terceirização do hospital municipal. Em princípio, também considero que a saúde é um direito constitucional e dever do Estado, em todas as suas esferas, federal, estadual e municipal. Este direito, no entanto, sofre as limitações que são impostas pelos orçamentos públicos, ou seja, a existência de recursos para o atendimento desta e de outras necessidades dos cidadãos.
No caso específico, as peculiaridades que envolvem o Hospital Municipal exigem soluções outras que não a ideal. O Hospital Municipal foi construído já com a intenção de ser terceirizado. Seu projeto, seu dimensionamento, sua construção, enfim tudo, foi pensado com o intuito de terceirizar seu funcionamento. Até onde eu saiba, o Hospital Municipal não é credenciado pelo SUS, o que obriga o Município de Maringá a arcar sozinho com os custos de seu funcionamento, o que, na gestão dos prefeitos José Claudio e João Ivo, demandava algo em torno de R$ 600.000,00 por mês, salvo melhor juízo,dinheiro que era retirado de outras áreas orçamentárias, tornando precário o atendimento de outras necessidades dos munícipes e aumentando a dívida do município.
Devemos ainda considerar que terceirização não é um crime e muito menos implica em deixar de atender a um dever do Estado. É mais uma forma, entre tantas, de se atingir o fim, que no caso é proporcionar um atendimento correto à saúde da população. Terceirizar não é privatizar. Privatizar é vender, transferir o domínio e o comando totalmente, sem poder mais interferir. Numa terceirização, transferesse por um determinado período de tempo o bem público para uma administração privada, desde que cumpridas uma série de exigências em termos de atendimento, funcionamento, investimentos e outras exigências, mantendo-se esta administração terceirizada sob a estreita vigilância do poder público - e diga-se, também do Ministério Público - que pode retomar o bem caso não sejam cumpridas as exigências constantes do contrato.
Ora, se o objetivo da existência do HM é atender as necessidades da população na área de saúde e hoje o Município atende precariamente a 100 pessoas, por exemplo, se a terceirização exigir que se atenda a 200 pessoas bem, não estará a população ganhando? Infelizmente, os orçamentos públicos não tem crescido na proporção das necessidades e exigências dos cidadãos, o que obriga o administrador público a buscar alternativas fora do setor público. Daí o grande crescimento do chamado terceiro setor, que não é público mas não tem o lucro como fim precípuo, tais como associações e organizações não-governamentais diversas, entidades que podem muito bem participarem da terceirização do HM.
Creio que uma discussão sobre o terceirização deve ser feita com profundidade, mas quem é contra deve apontar soluções e indicar as fontes de receita para a manutenção do HM. Não basta dizer que é um direito constitucional e pronto, eu quero. O direito constitucional à saúde sofre as limitações da existência física de recursos. Exigir sem apresentar soluções é o mesmo que admitir que um filho possa exigir e, se não atendido, recorrer ao Ministério Público, contra o pai pobre assalariado que não lhe manda para o Hopi Hari, violando seu direito constitucional ao lazer. Ou não lhe paga uma cara faculdade particular, violando seu direito constitucional à educação. Bom senso e isenção política é o que se pede nessa hora, colocando-se o interesse da população em primeiro lugar. (Walter Toledo Valle)

5 comentários:

Anônimo disse...

Realmente Ronaldo, tudo que esta administração quer é fazer as pessoas pensarem como você. Me preocupa mais ainda, quando pessoas da imprensa, que na grande maioria das vezes são formadores de opinião, esboçam opiniões como esta. Não há mais tempo pra se questinoar se deveria ou não ter se contruído este hospital, sabemos muito bem quais poderiam ser os objetivos de quem o contruiu, no entanto, hoje ele é um bem público, a serviço da sociedade e mais ainda, das pessoas que realmente precisam de serviços públicos. Ao invés de a atual administração gastar a sua "inteligência" e sua "força de trabalho" em busca de melhores recursos, que eu reconheço que são escassos, eles estão mais preocupados em acabar cada dia mais com o que já era uma realidade para justificar uma privatização ou terceirização, como queira denominar. Por isso, me entristesse ver pessoas como você, assinando em baixo de fatos tão lamentáveis para Maringá.

Anônimo disse...

Desculpem, mas infelizmente não posso me identificar.

É uma boa discussão. Mas alguns pontos são necessários debater.
- A terceirização do HM, passando o para uma entidade sem fins lucrativos, seguindo o modelo adotado em São Paulo, por exemplo, implicará também em repassar uma quantidade de recursos financeiros para aquela entidade. Pois a entidade não vai colocar dinheiro do bolso na manutenção do HM, nem tem outra fonte de receita, (ou será que ela vai cobrar pelos atendimentos realizados no Hospital?)
- Em havendo abertura para outras cobranças (convenios, particulares, etc) no hospital terceirizado, haverá duas filas para o atendimento da população, uma para o SUS (uma portinha lá nos fundos) e outra na entrada principal?
- Maringá é uma das cidades que tem um contrato de Gestão Plena do Sistema de Saúde com o Ministério da Saúde. Isto funciona da seguinte forma:
- O Ministério repassa ao Municipio um valor fixo, hoje aproximadamente 3.200.000,00 por mês e o Municipio tem a responsabilidade de Contratar hospitais, clinicas, médicos, etc e efetuar o pagamento dos atendimentos contratados.
- Depende do municipio efetuar o cadastro do HM para recebimento de parte de recursos, A ação política para ampliar junto ministério da saúde a ampliação do teto para que comporte também o repasse para o HM também depende do Municipio.
- Desta forma não vejo a transferência do HM para iniciativa privada tendo como consequencia a diminuição das despesas no municipio.
- Quanto à afirmação de que o HM foi projetado para ser transferido para a iniciativa privada é este o grande problema.
- É praticamente impossível um municipio do porte de Maringa manter um hospital de média complexidade funcionando. Tendo em vista seus limites financeiros. De outro lado vivemos em um estado que não cumpria o percentual de investimento na Saúde que a constituição determina. Então, este hospital deveria estar com o Governo do Estado, que sim teria recursos para mantê-lo.

Anônimo disse...

Se o HM não é conveniado com o SUS, será que não seria possível fazer esse convênio, como uma possível solução para a crise? Acho que a tercerização deve ser o último recurso e deve acontecer da forma mais clara possível, sem acordos a portas fechadas, pois já que o hospital é público, a sociedade deve estar por dentro de todos os detalhes. Me parece que o governo não está muito interessado nesta discussão.

Anônimo disse...

Engraçado que o exemplo foi dado pelo primeiro irmão Ricardo Barros que em sua gestão "terceirizou" as escolas municipais e creches da cidade... não preciso nem dizer o que ocorreu na ocasião.

Anônimo disse...

Ao autor deste artigo, antecipadamente, perdoe-me, mas o título "Um outro olhar sobre a tercerização do HM" já trás embutido o engodo chamado TERCEIRIZAÇÃO.
Não é possível falar-se em "um outro olhar". Ou é ou não é. O olhar é apenas um e não o que você sugere.